A MINHA EXPERIÊNCIA COM A ENDOMETRIOSE

A MINHA EXPERIÊNCIA COM A ENDOMETRIOSE

Menstruei pela primeira vez aos meus 12 anos!

 

Nunca me lembro de ter dores na altura da menstruação, apenas aquele desconforto característico e uma sensação de dormência nos primeiros dias.

 

Recordo-me sim, dos ciclos irregulares, chegava a estar um ano sem menstruar, e da acne intensa e severa que marcou muito toda a minha adolescência. Algum tempo depois da chegada da menstruação comecei com vários problemas digestivos, dores de estômago, dores abdominais, ficava muito inchada e mal-disposta quando comia determinados alimentos. A minha barriga inchava de tal maneira que não conseguia apertar o botão das calças, tinha muitas dores e parecia grávida de alguns meses. Tomava tudo o que era medicação para alívio da dor, mas nada funcionava, a única coisa que me aliviava era colocar um saco de água quente sobre a barriga e ficar assim durante horas. Para além disso, fazia infeções urinárias de repetição, chegavam quase a ser mensais e, numa fase já muito avançada, tinha de fazer antibiótico, como forma de precaução antes de ter relações sexuais.

 

Consultei vários médicos, incluindo ginecologistas, fiz dezenas de exames entre os quais endoscopias, colonoscopias, análises especificas e nunca ninguém me deu um diagnostico concreto ou me soube explicar o porquê de toda a minha sintomatologia. Os resultados apresentavam-se sempre normais ou inconclusivos e os médicos acabavam por desvalorizar todas as minhas queixas dizendo que “Era normal”.

 

A parte emocional e social começou a pesar. Sentia que as pessoas mais próximas já me tinham como “aquela que tem sempre alguma coisa” e eu própria, a determinada altura, comecei a duvidar de mim mesma e da minha sintomatologia. 

Em 2016 tive uma crise aguda e fui internada de urgência com uma ileíte e com suspeita de doença de Chron, que, no fim de muitos exames, acabou por não se confirmar. A minha proteína C reativa estava elevadíssima e parte do meu intestino inflamado, na altura sugeriram mesmo operação de urgência, que acabou por não se realizar. Ainda hoje os médicos não me sabem explicar o que aconteceu e o porquê da ileíte.

Depois deste episódio e por exclusão de partes fui “diagnosticada” com síndrome do cólon irritável.

 

 

Sentia-me confusa, perdida, frustrada, não-ouvida e desvalorizada. Nada do que os médicos diziam era conclusivo ou esclarecedor, ficava sempre uma ponta solta que ninguém sabia explicar e acabavam por desvalorizar todo o historial, o que me irritava profundamente.

 

Foi então que disse para mim mesma “chega” de estar sempre dependente da opinião e do parecer médico e decidi agir. Sentia mesmo que nada do que me diziam fazia sentido e que todos os meus sintomas, já de há tantos anos, não poderiam “não ser nada” ou “ser normais”.

Creio que o facto de não sentir dor menstrual, muito menos incapacitante, na altura da menstruação tenha dificultado o diagnóstico. Por isso, quero deixar um ALERTA que considero mesmo importante:

 

Não precisas de ter dor menstrual ou fluxo muito abundante na altura da menstruação para teres endometriose, existem outros sintomas que caracterizam a doença e passam, muitas vezes, despercebidos ou são confundidos com outras patologias.

 

Comecei eu própria a pesquisar e a mexer-me e foi então que encontrei a página da associação MulherEndo. Rapidamente me identifiquei com vários dos sintomas descritos, o que me fez entrar em contacto com a associação, que me sugeriu uma lista de médicos especialistas na doença.

Marquei consulta e nem precisei de exames complementares para ter o diagnóstico. Na consulta o médico identificou logo a doença através de observação e sugeriu a realização de uma ressonância magnética especifica ao abrigo do protocolo da endometriose para confirmar o diagnóstico e perceber a extensão da doença. Foi em 2017 que me foi diagnosticada Endometriose profunda no septo retovaginal, com a possibilidade de existirem lesões noutras áreas do organismo, mas que apenas poderiam ser confirmadas através de laparoscopia. Após esta ressonância fiz outras e todas aquelas que não foram realizadas ao abrigo do protocolo da Endometriose ou que não foram feitas por técnicos especialistas na doença deram “normais” ou “inconclusivas”.

Estamos a falar que tive o diagnostico da doença sensivelmente 15 anos depois dos primeiros sinais. 

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