A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DO SONO NA FERTILIDADE

A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DO SONO NA FERTILIDADE

 Os estudos têm vindo a mostrar evidências entre os distúrbios do sono e a fertilidade.

Sabemos que maus hábitos de sono podem levar a distúrbios do sono que estão associados a inúmeras condições de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, hipertensão, aumento dos níveis de colesterol, diabetes tipo 2, depressão, transtornos de ansiedade e parece também existir uma relação entre o sono, o equilíbrio do ciclo menstrual e a capacidade reprodutiva. 

Sabe-se que esta relação é recíproca e que os distúrbios do sono podem ser tanto a causa como a consequência de alterações hormonais que impactam o bom funcionamento do ciclo menstrual e a fertilidade. 

Do trabalho que desenvolvo com as mulheres no que respeita ao conhecimento do ciclo menstrual e da sua fertilidade, cada vez mais mulheres, que chegam até mim com questões relacionadas com a fertilidade e com alterações do ciclo menstrual, descrevem dificuldades ao nível do sono.

Entre as queixas mais recorrentes estão:

  • dificuldades em adormecer;
  • dificuldade em manter o sono;
  • despertares noturnos e dificuldade em voltar a retomar o sono;
  • sensação de cansaço e falta de energia pela manhã;
  • entre outras.

 

A qualidade do sono tem sido cada vez mais reconhecida como determinante na saúde e bem-estar das mulheres, particularmente no contexto do ciclo menstrual e da gravidez.

 

O problema é que vivemos numa sociedade que desvaloriza e negligência cada vez mais o sono e a sua importância, o que leva a uma fraca qualidade e perturbações ao nível do sono.  

Uma má qualidade do sono pode refletir-se em:

  • Resistência à insulina
  • Aumento dos níveis de glicose no sangue;
  • Desregulação do apetite com tendência para aumentar a ingestão de alimentos de má qualidade;
  • Aumento das hormonas de stress, nomeadamente o cortisol, adrenalina e noradrenalina;
  • Aumento da resposta inflamatória dos tecidos e fraca resposta imunitária;
  • Promoção do stress oxidativo das células.
  • Desregulação da produção de melatonina;
  • Aumento ou supressão de hormonas essenciais ao bom funcionamento do ciclo menstrual e à gravidez (TSH, LH, FSH, PROLACTINA, ESTRADIOL, PROGESTERONA E TESTOSTERONA);

 

Cada uma destas consequências afetam de forma direta e indireta o equilíbrio do ciclo menstrual e, por sua vez, a fertilidade e a conceção, uma vez que o ciclo menstrual é regulado por hormonas e que os padrões de sono têm influência na síntese, secreção e metabolização destas mesmas hormonas.

 

Tendo isto em consideração, não é de admirar que os estudos mais recentes levantem hipóteses que corelacionam as perturbações e distúrbios do sono com alterações hormonais e metabólicas que podem refletir-se em:

  • irregularidades do ciclo menstrual;
  • amenorreia;
  • problemas de fertilidade;
  • aumento do tempo de conceção;
  • dificuldades na implantação;
  • perdas gestacionais precoces.

 

 

MAS O QUE TEM O CÉREBRO A VER COM OS OVÁRIOS E DE QUE FORMA SE RELACIONAM ESTES SISTEMAS? 

Tem tudo a ver!!! Passo a explicar.

Para que se dê início ao ciclo ovárico e ao ciclo uterino é necessária uma ordem por parte do cérebro.

Tudo começa numa estrutura chamada hipotálamo, que é basicamente um controlador de todo o corpo humano. O hipotálamo verifica todas as condições do corpo e quando sente que é seguro, comunica com a sua assistente a hipófise ou glândula pituitária para que esta envie informação aos ovários dando ordem para que estes iniciem o processo de recrutamento folicular. Para que isto seja possível, a hipófise lança na corrente sanguínea a hormona FSH ou hormona folículo estimulante para que todo o processo se inicie e para que os ovários comecem a produzir hormonas sexuais, nomeadamente o estrogénio, ou mais especificamente o estradiol. 

Quando os níveis de estrogénio estão elevados, o hipotálamo capta esta mensagem e mais uma vez comunica à hipófise que existe um folículo dominante, avalia as condições envolventes e, caso esteja tudo como é esperado, a hipófise dá ordem aos ovários, através da produção da hormona LH, de que é seguro passar à fase de maturação final do óvulo e libertá-lo. 

 

Através desta explicação muito simples e resumida consegues perceber que o bom funcionamento do ciclo menstrual depende de uma comunicação sustentada entre o cérebro e os ovários que se dá através da libertação de hormonas que nada mais são do que mensageiros que permitem a comunicação entre estes dois sistemas.

 

Contudo, o cérebro, nomeadamente o hipotálamo, não é apenas responsável por manter a funcionar o ciclo menstrual e a função reprodutiva das mulheres, ele é também responsável por um conjunto de funções e sistemas do corpo essenciais à sobrevivência, nomeadamente o sono.  É no hipotálamo que se localiza o relógio mestre do ciclo circadiano, o núcleo supraquiasmático, responsável pela regulação do ritmo circadiano e pelo equilíbrio do sono. 

 

Quando o sono é perturbado ou de fraca qualidade, o que é muito fácil de acontecer nos dias de hoje, dado o ritmo em que vivemos, o corpo tem de fazer um esforço adicional para manter a funcionar as funções ligadas à sobrevivência e acaba por prejudicar outras dinâmicas e sistemas, como é o caso do ciclo menstrual.

 

Pensa nisto como um patrão que tem de dar atenção a todos os funcionários, contudo se um dos funcionários está com problemas, o patrão vai precisar de lhe dedicar mais tempo e atenção para que as suas funções se mantenham, o mais equilibradas possíveis e, ao fazê-lo, principalmente se for por muito tempo e de forma recorrente, acaba por prejudicar os outros funcionários que também necessitam da sua atenção e supervisão. Estes funcionários acabam por estar a trabalhar e a tentar cumprir as suas funções com recurso aos serviços mínimos, o que vai acabar por se refletir na sua produtividade, eficiência e comprometer o resultado final.   

 

A quantidade e/ou a qualidade do sono, privação do sono e/ou sono desordenado podem exercer efeito sob várias hormonas diferentes e essenciais ao bom funcionamento do ciclo menstrual e à reprodução, nomeadamente TSH, FSH, LH, PROLACTINA, ESTROGÉNIOS, PROGESTERONA, TESTOSTERONA, CORTISOL, ETC…

 

É necessário um equilíbrio e uma sincronia destas hormonas para o sucesso de uma série de procedimentos: ovulação, fecundação, implantação e gravidez. E a qualidade do sono parece desempenhar um papel significativo neste equilíbrio.

Desta forma é fundamental avaliares a qualidade do teu sono, e começares já hoje a fazer pequenas mudanças que te vão permitir ter um sono mais saudável e equilibrado que, por sua vez beneficiará o bom funcionamento do teu ciclo menstrual, a tua fertilidade e as possibilidades de alcançares uma gravidez com sucesso. 

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